O PODER DA RESPIRAÇÃO

As nossas formas espirituais – a concentração, a memória e o discernimento –, tiram proveito da respiração orientada, do mesmo modo com que nossa constituição psíquica, a exercitar-se paciente­mente e a libertar-se da escória da emoção negativa.
Podemos experimentar em nós mesmos aquilo de que a respira­ção é capaz: sentando-nos em posição ereta, numa cadeira, concen­tramo-nos na respiração e, de olhos fechados, eliminamos todos os outros pensamentos. Agora, prolongamos, pouco a pouco, o tempo de expiração e da inspiração, "observamos a respiração".
Depois de cinco minutos, iremos sentir que uma calma benéfi­ca nos invade, e que as nossas preocupações e os nossos problemas diminuíram.

Outro exemplo: vamos a uma festa popular e entramos na "montanha russa". Cada vez que os carros descem, temos uma sen­sação de náusea no estômago; somos presas do medo. Mas, se inspi­rarmos profundamente enquanto descemos, o medo não se apresentará! Esses são apenas dois exemplos da influência da respiração orientada conscientemente.
Os chineses são da opinião que a respiração calma prolonga até mesmo a vida. Seus filósofos afirmam que, quando o homem nasce, é-lhe proporcionado um determinado número de respirações. Caso respire rápida e agitadamente, a sua energia vital logo chegará ao fim. Exemplo disso eles vão buscar no macaco arisco, de vida curta, e na tartaruga centenária com a sua respiração acentuadamente lenta.
Fontes bem orientadas e fidedignas vindas do Oriente nos fa­lam de resultados respiratórios verdadeiramente miraculosos. Sabe­mos, assim, de monges tibetanos que, no frio intenso, sentam-se nus sobre a neve, tendo de secar certo número de lençóis molhados, an­tes de serem admitidos em determinados rituais da vida monástica. Eles treinam o Tum-Mo, um exercício respiratório que produz calor. A. Jusseck, um psicoterapeuta conhecido, ( ver A. Jusseck, O encontro do sábio dentro de nós, Goldmann 1986) que atualmente vive nos Estados Unidos, deve a esse exercício a salvação da sua vida, quan­do estava em Stalingrado. A famosa exploradora do Tibete, Alexan­dra David-Néel, descreve como outros monges tibetanos que se submeteram, durante anos, a certos exercícios respiratórios são ca­pazes de vencer grandes distâncias como se tivessem "botas de sete léguas", mais voando como pássaros do que andando, tocando a ter­ra só de vez em quando com a ponta dos pés (A. David-Néel, Mystiques et Magiciens du Tibet, Librairie Plon 1972) .
Em tempos mais re­centes, sabemos que, na psicoterapia, uma influência especial da respiração pode levar os pacientes a um nível diferente de consciên­cia ("estado Alfa ou Teta"), no qual tornam a surgir experiências que já haviam desaparecido da memória (terapia primária, rebir­thing). E o moderno método do superlearning que no estudo de lín­guas também é apoiado por exercícios respiratórios.
Esses exemplos devem ser suficientes para esclarecer o ex­traordinário efeito a que pode chegar a função respiratória orientada. A respiração correta promove não apenas a agilidade do corpo, a vi­gilância do espírito e o equilíbrio da psique, mas também uma capa­cidade maior do hemisfério direito do cérebro, ao qual compete a fantasia, a vida onírica e as capacidades criativas. Esse hemisfério foi negligenciado nos nossos dias em prol do culto do intelecto. Re-descoberto, ele confere sentido e alegria à nossa existência e à nossa individualidade. Respirar corretamente proporciona um acréscimo de energia ao nosso corpo sutil, também chamado corpo cinestésico, etérico ou corpo prana, porque, pela respiração, aspiramos não ape­nas oxigênio, mas também o elixir criativo da vida (que os hindus chamam de "prana" e os chineses de "ki"), que mantém vivo o nosso corpo psíquico, fortalece a membrana celular e reforça o sistema imunológico.

A respiração correta pode nos tirar da polaridade - que sofre­mos desde a "expulsão do paraíso" - e nos fazer voltar à unidade, na qual a criação já não se apresenta mais como algo separado de nós, mas como solidariedade do destino em relação a tudo o que vi­ve. Assim, o mergulho no interior de nós mesmos, mediante a respi­ração, não nos separa de modo algum dos nossos companheiros - coisa que muitos receiam; ao contrário, melhora nosso relaciona­mento social, a simpatia e o amor humano. O ar é o elemento de co­municação com o tu. Tudo tem de respirar, as plantas, os animais, as árvores e também a colmeia e até uma orquestra. O próprio universo, uma vez por dia, inspira - da meia-noite ao meio-dia - e novamente expira - do meio-dia à meia-noite. Por isso, o melhor momento para os nossos exercícios é a primeira metade do dia. Mas, o alento de Brahma, o grande criador dos mundos, abrange, segundo o pensa­mento hindu, eras siderais, cujo ciclo atual nos trouxe a era da escu­ra deusa Kali, dos sacrifícios humanos, das guerras e guerrilhas san­grentas, das agressões. Uma razão a mais para procurarmos auxílios libertadores que nos conduzam à luz!

Respirar corretamente significa levar a consciência a todas as partes do corpo. No entanto, este é o elemento fundamental da trans­formação integradora do nosso ser. Se unirmos o alento à força da nossa imaginação - como o faz um químico hábil com seus ingre­dientes - experimentaremos um surpreendente acréscimo das nossas possibilidades e, no fim de tudo, da totalidade da nossa força vital. Um exemplo: de olhos fechados, imaginemos nosso joelho direito, com a rótula, os tendões e os ligamentos. Agora, "respiremos vigo­rosamente para dentro do joelho", o que vivifica ativamente a ima­ginação. Podemos também pôr a mão direita - a doadora - sobre o joelho, imaginando que o fluxo energético passa, com a respira­ção, através do braço e da palma da mão, diretamente para o joelho. Dentro em pouco, a sensação de calor com a sua força de cura surgi­rá nesse local. Como um servo fiel, a respiração se submete à nossa vontade.

Falando de "vontade", não devemos cometer o erro de evocar ambições competitivas nesses exercícios altamente diferenciados. Nesses exercícios, não interessa quem respira melhor, quem absorve mais ar ou quem suspende a respiração por mais tempo. Os efeitos devem se instalar bem devagar, como por si mesmos, como que "furtivamente". Não sendo assim, logo surgirão tensões e bloqueios, como podemos observar diariamente nos rostos crispados dos Yo­gues. Feitos com boa vontade e assiduamente, os exercícios respi­ratórios representam uma atividade relaxante, natural e alegre. Ran­ger os dentes durante sua execução é despropositado.

No caso, trata-se de uma atitude que nós, ocidentais, achamos muito difícil compreender: o Wu-Wei oriental, a não-ação na ação. Isso quer dizer: sem agarrar-se a um objetivo, sem ambição e sem o desejo egoísta de lucro (coisa que existe também no terreno espiri­tual) desenvolver uma atividade criativa, deixar fluir as energias e, no nosso caso, "abrir-se ao alento". Em relação a isso, os hindus têm uma bela metáfora. Dizem eles: "Busca a tua estrada de auto-realização no meio, entre o caminho dos gatos e o caminho dos ma­cacos!- É que o gatinho, todo indolente, deixa que a mãe o carre­gue, segurando-o na boca, ao contrário do macaquinho, que se agar­ra com toda a força à sua progenitora. Respirar é prazer, mas não no sentido hedonista de gozar a vida. Ao respirar, "sorrimos" para os pulmões. Respirar é um ato inspirado. Inspirar significa soprar para dentro; assim, o alento é uma dádiva divina. Porque, tal como está na Bíblia, Deus insuflou o ruach ou pneuma no torrão de terra, Adão. Ambas as palavras, de origem hebraica e grega, significam, além de "alento", também "espírito". Mais adiante, reza a Bíblia: "...e assim o homem tornou-se uma alma viva. Isso quer dizer que, no seu sentido mais profundo, o alento é um instrumento divino e um guia, sempre presente, que leva à grande libertação.Do livro de

Marietta Till, A FORÇA CURATIVA DA RESPIRAÇÃO

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